ENTRELAÇANDO RITUAIS ARTÍSTICOS E LITERÁRIOS - MOSTRA VIRTUAL
O QUE É A EXPOSIÇÃO
Esta proposta parte, inicialmente, de um interesse das crianças por rituais, expressos em suas ações e brincadeiras depois de uma aproximação com os rituais indígenas. Essas crianças são da Educação Infantil, da faixa etária de 5 anos, da EMEF Edgard Coelho (São Leopoldo/RS). A ação pedagógica foi planejada e coordenada pelas professoras Guadalupe da Silva Vieira e Jéssica Tairâne de Moraes.
Aproveitando esse interesse delas e com o objetivo de criar condições para que ampliassem suas ações, pensamentos e repertórios culturais e artísticos, inspiramo-nos em artistas contemporâneos como João Paulo Baliscei e Lia Menna Barreto para lançar um convite às crianças para pensar e agir para além do óbvio. Quais rituais podemos fazer no nosso cotidiano? O que podemos (re)construir com aquilo que não estamos habituados? Quais os padrões e estereótipos que nos condicionam a adotar certos rituais que são esperados socialmente de meninos e meninas? Como podemos ressignifcar esses rituais, atravessando fronteiras e rompendo com ideias cristalizadas que sustentam certos preconceitos?
Nessa direção, a partir da série “Para menino ou para menina?” e “A boneca sou eu”, de Baliscei e Barreto, respectivamente, inspiramo-nos a ressignificar certos rituais a partir de bonecas, pintando-as de cores não binárias e criando peças inusitadas a partir delas. Para conversar com essas discussões, também utilizamos como inspiração Júnior de Odé que, no viés da arte contemporânea, trabalha com produção de fios-de-conta do candomblé, promovendo análises e tensionamentos sobre seus usos e significados.
Foi assim que surgiu a produção de colares e adereços com a utilização de bonecas pintadas e diversos materiais, como penas, conchas e, claro, pedras e miçangas. Todo esse processo possibilitou às crianças refletir acerca de alguns padrões sobre brinquedos e objetos, ressignifcando certos rituais que são esperados de meninos e meninas a partir, também, dos fios-de-conta do candomblé e colares.
Nesse contexto surgem as pencas de balangandãs. O balangandã, de origem africana, é feito de papel e fitas longas e coloridas que, ao ser girado no ar, lembra um arco-íris ou uma espécie de foguete. O balangandã, em seu formato original, era tido como amuleto aos povos africanos, que acreditavam prevenir contra o mau-olhado e demais forças adversas. O acessório, composto por cordões e enfeites em penduricalho (fitas coloridas), recebeu esse nome devido ao som que faz ao ser movimentado. No entanto, seu principal atrativo é o efeito visual ao flutuar no ar.
A palavra balangandã tem diferentes significados, mas para essa proposição pedagógica refere-se à forma de representação literária e artística que evoca uma relação poética com artistas, escritores, música, teatro, dança, fotografia, instalações, perspectivas decoloniais e, assim, aguçar a sensibilidade do grupo envolvido, por meio da fruição de objetos artísticos de diferentes gêneros. Desse modo, a “penca de Balagandãs” assume uma posição de “ritual do pensar” nas possibilidades de leitura e combinações de múltiplas linguagens e materiais, entrelaçadas com escritores da literatura infantil que abordam a temática da africanidade e decolonialidade com produções artísticas que nos levam ao questionamento, reflexão e desconstruções de ações ou pensamentos que fragmenta padrões, preconceitos e modos de ver e interpretar o corriqueiro, como fazem Lia Menna Barreto e João Paulo Baliscei.